Ciclo
Celular
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Em organismos unicelulares, a célula cresce ao absorver substâncias do meio
e utilizando esses materiais na síntese de compostos celulares. Quando essas
células atingem um dado tamanho
dividem-se, obtendo-se duas células filhas com metade do tamanho, que
crescerão e assim sucessivamente.
Em organismos multicelulares, pelo contrário, a divisão celular e o aumento
do volume celular são o meio pelo qual o organismo cresce. Em todos os
casos as células filhas são geneticamente iguais à célula progenitora.
A divisão celular consiste em dois processos sobrepostos ou consecutivos:
mitose
e citocinese.
a mitose origina dois núcleos geneticamente idênticos, enquanto a citocinese
separa o citoplasma, colocando os núcleos filhos em células separadas.
As células que se dividem activamente passam por uma sequência definida de
acontecimentos, que se designa ciclo
celular. Dependendo
do tipo de célula, o ciclo requererá tempos diferentes. Factores externos,
como a temperatura ou a disponibilidade de nutrientes também afectam a
duração do ciclo e respectivas etapas.
O ciclo celular divide-se em
interfase
e mitose
(ocupando geralmente entre 5 e 10% do ciclo).
A interfase, ou
seja, a fase entre duas divisões mitóticas, já foi considerada a fase de
repouso da célula mas tal não é, de todo, verdade. Esta parte do ciclo pode
ser subdividida em três partes:
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Fase
G1
- a designação desta etapa deriva de gap = intervalo, e
decorre imediatamente após a mitose. É um período de intensa
actividade bioquímica, no qual a célula cresce em volume e o número
de organitos aumenta. Para que a célula passe para a fase seguinte do
ciclo é necessário que atinja um ponto crítico designado ponto
de restrição
ou start, momento em que se dão mudanças internas;
-
Fase
S - esta é
a fase de síntese (S) de DNA e, aparentemente, requer um sinal
citoplasmático para que se inicie. Cada cromossoma é duplicado
longitudinalmente, passando a ser formado por dois cromatídeos. Nesta etapa numerosas proteínas
(histonas, por exemplo) são igualmente sintetizadas;
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Fase
G2
- esta fase conduz directamente à mitose e permite formar estruturas
com ela directamente relacionadas, como as fibras do fuso acromático.
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Mitose
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A mitose é um processo contínuo mas geralmente
consideram-se, por uma questão de facilidade, quatro etapas: Prófase, Metáfase,
Anáfase e Telófase.
No decorrer destas etapas, o material genético sintetizado na fase S do ciclo
celular é dividido igualmente por dois núcleos filhos. Este processo
está associado à divisão de células somáticas.
A mitose é iniciada apenas em presença de um
factor
promotor da mitose (MPF) proteico citoplasmático, que provoca a condensação dos cromossomas.
As variações de concentração de MPF estão relacionadas com as variações
de uma outra proteína conhecida por ciclina.
Aparentemente, quando a ciclina atinge uma certa concentração no citoplasma,
o MPF é activado. Durante a mitose a ciclina é rapidamente destruída,
aumentando novamente durante o ciclo seguinte.
Um dos primeiros sinais do próximo início da mitose é o surgimento de uma
faixa relativamente densa de microtúbulos logo abaixo da membrana
citoplasmática. Esta
faixa envolve o núcleo num plano que corresponderá ao plano equatorial do
fuso acromático mitótico. Esta faixa desaparece após a formação do fuso
acromático mas corresponderá ao local onde se forma a separação entre as
duas células filhas.
A duração da mitose varia com o tipo de célula, de tecido e de organismo.
Em células vegetais de raiz de Angiospérmica, os tempos medidos foram os seguintes:
Prófase 1-2 horas, Metáfase 5-15 minutos, Anáfase 2-10 minutos e Telófase
10-30
minutos. Ainda neste tipo de célula, a interfase pode durar de 12 a 30 horas.
As etapas da mitose, propriamente dita, decorrem da
seguinte forma:
-
Prófase
- vista ao M.O.C. a transição entre a fase G2 e a Prófase
não é nítida. Durante esta etapa, a mais longa de todo o processo
mitótico, a cromatina condensa-se
gradualmente em cromossomas bem definidos. Durante este processo é
visível que cada cromossoma é compostos por dois cromatídeos
enrolados um no outro, pois o DNA foi duplicado durante a fase S. No final
da Profase os cromatídeos estão visíveis lado a lado, unidos pelo centrómero,
uma sequência específica de DNA que ligará a molécula ás fibras
do fuso acromático. A presença do centrómero divide cada cromatídeo
em dois braços. É durante esta fase que surge em volta do núcleo a
chamada zona clara, que contém os microtúbulos. Estes inicialmente
estão orientados ao acaso mas no fim da etapa estão alinhados
paralelamente á superfície do núcleo, ao longo do eixo do fuso
acromático. O nucléolo desintegra-se e, determinando o final da
etapa, o envelope nuclear desaparece;
-
Metáfase
- esta etapa inicia-se com a formação do fuso acromático,
uma estrutura tridimensional larga no centro e afilada nas
extremidades, que ocupa a área anteriormente ocupada pelo núcleo. As
fibras do fuso são feixes de microtúbulos e vão-se ligar a
complexos proteicos especializados - cinetócoros
- desenvolvidos nos centrómeros durante a Prófase. Estes
microtúbulos do cinetócoros estendem-se, juntamente com os
microtúbulos polares, para os pólos da célula. Através deles vai
ocorrer o alinhamento dos cromossomas no centro do fuso, formando a placa
equatorial.
Nesta situação os cromatídeos estão em posição de se separarem.
O alinhamento das fibras do fuso acromático ocorre a partir dos centros
de organização dos microtúbulos.
Em animais e protistas esse centro organizador é o centrossoma,
uma nuvem de material amorfo que rodeia o par de centríolos. Em
células vegetais, que não contêm centrossomas, os organizadores
existem e garantem a formação do fuso, mesmo que os pólos sejam
pouco definidos;
-
Anáfase - esta etapa, muito breve, começa bruscamente, com a separação
simultânea de todos os cromatídeos pelos centrómeros. Cada
cromatídeo toma agora para si a designação de cromossoma. À medida
que os cinetócoros se deslocam em direcção a pólos opostos os
braços dos cromossomas são arrastados, sendo as pontas dos braços
mais longos as últimas a serem separadas. Este movimento em
direcção aos pólos parece dever-se ao encurtamento dos
microtúbulos junto ao cinetócoro, como se este "comesse" o
caminho ao longo das fibras. No final da Anáfase dois conjuntos
idênticos de cromossomas encontram-se em cada pólo;
-
Telófase - nesta etapa final da mitose, a separação dos dois conjuntos de
cromossomas é finalizada pela formação da membrana nuclear, a
partir de retículo endoplasmático rugoso. O fuso acromático
desaparece e os cromossomas relaxam novamente, tornando-se
indistintos. O nucléolo é reconstituído e cada núcleo entra na
interfase.
Tal como
já foi referido anteriormente, a citocinese
é um processo que se sobrepõe à mitose e corresponde à divisão do
citoplasma. Na maioria das
células decorre por invaginação da parede celular (se presente) e pela constrição
da membrana citoplasmática. No entanto, em células vegetais a separação
ocorre através da formação do fragmoplasto.
Esta estrutura é um sistema de fibras semelhantes
às do fuso, formadas por
microtúbulos mas organizados perpendicularmente ao eixo do fuso. A esta rede
de fibras vem juntar-se vesículas do Golgi contendo substâncias pépticas
para formar a lamela média. As suas membranas fundem-se para formar a
membrana plasmática em formação, do centro para o exterior, em direcção
á parede celular já existente.
Os plasmodesmos
formam-se igualmente neste
momento, quando túbulos de retículo endoplasmático liso são apanhados no
meio desta rede. Por último, cada célula filha deposita a sua
parede celular sobre a lamela média assim formada.
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Meiose
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A meiose ocorre apenas em células diplóides especializadas e apenas em
ocasiões determinadas do ciclo de vida de um organismo. Através deste
fenómeno nuclear, uma única célula diplóide dá origem a quatro células
haplóides, designadas gâmetas
ou esporos.
Um gâmeta
é uma célula que se une a outra semelhante para formar um zigoto
diplóide. Pelo contrário, um esporo
pode formar um organismo haplóide sem se fundir com outra célula.
A meiose consiste em duas divisões nucleares sucessivas, designadas I e II.
Cada uma destas divisões apresenta na sua essência as mesmas etapas que a
mitose:
-
Prófase
I - nesta
etapa os pares de cromossomas tornam-se visíveis com longos
filamentos delgados. Tal como na mitose, já foram duplicados durante
a interfase precedente, logo são constituídos por dois cromatídeos
unidos pelo centrómero. No entanto, nesta fase, o grau de
condensação é tal que parecem estruturas unas. Os cromossomas
homólogos emparelham de forma muito precisa, que se inicia em vários
pontos e depois progredindo como um ziper que se fecha. Cada
homólogo provém de um progenitor diferente. Este emparelhamento - sinapse
- é fundamental para a ocorrência de meiose, pelo que este fenómeno
não pode ocorrer em células haplóides. Nesta altura os pares de
homólogos designam-se bivalentes.
Durante a sinapse pedaços de cromatídeos soltam-se e voltam a
ligar-se, ao acaso entre os quatro cromatídeos presentes, processo
designado crossing-over.
Estas trocas podem ser vistas ao microscópio pela formação de
figuras em forma de X designadas quiasmas.
Ao longo da Prófase os quiasmas e sinapses desaparecem, tal como o
nucléolo;
-
Metáfase
I - nesta
etapa, tal como na mitose, o fuso acromático torna-se visível e os
microtúbulos ligam-se aos centrómeros dos bivalente. Estes
cromossomas emparelhados deslocam-se, então, para o centro da célula
formado a placa
equatorial,
agora com cada centrómero do par em lados opostos da placa;
-
Telófase
I - nesta
etapa a espiralização dos cromossomas diminui, dando-lhes uma
aparência alongada. Novas membranas nucleares são sintetizadas a
partir de retículo endoplasmático rugoso enquanto se para
gradualmente para a interfase. Finalmente, o fuso acromático
desaparece e o nucléolo reorganiza-se. Saliente-se, no entanto, que
estes acontecimentos podem não ser tão distintos, passando
directamente da Telófase I para a Prófase II;
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Prófase
II - no
início da segunda divisão os cromatídeos continuam unidos pelo
centrómero, pelo que esta divisão se parece muito com a mitose. Se a
membrana nuclear tiver sido refeita na Telófase I irá desaparecer,
tal como o nucléolo, e os cromossomas irão condensar novamente;
Durante a meiose o material nuclear foi duplicado uma vez e dividido
duas vezes, pelo que cada célula filha apresenta metade do número de
cromossomas da célula diplóide inicial.
No entanto, mais importante que a redução do número de cromossomas
é a consequência genética do processo:
-
na metáfase
I a orientação ao acaso dos bivalentes causa uma mistura de
material materno e paterno pelos dois núcleos filhos;
-
devido
ao crossing-over, cada cromossoma contém genes de origem materna e
paterna.
Se a célula inicial apresentar dois pares de cromossomas existirão 4
combinações possíveis, se tiver três pares serão 8 e se forem 4 pares de
cromossomas, 16 combinações possíveis. A fórmula geral será 2n,
o que na espécie humana corresponde a 223 combinações
possíveis, ou seja, 8388608 possibilidades (e existem muitos organismos com
número superior de pares de cromossomas!!). Acresce ainda o crossing-over
para baralhar as coisas e pode-se considerar impossível que uma célula
resultante de meiose seja igual á célula que lhe deu origem.
A meiose difere da mitose em três aspectos fundamentais:
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consiste
em duas divisões sucessivas, originando 4 núcleos;
-
cada
um dos 4 núcleos é haplóide, contendo metade do número de
cromossomas da célula-mãe diplóide;
-
os
núcleos haplóides produzidos contêm combinações génicas
inteiramente novas.
Por este motivo, as consequências genéticas e evolutivas da meiose são
profundas. Devido à meiose e à fecundação os organismos diplóides existem
numa variedade de formas, mesmo os da mesma espécie.
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