Gorila

Gorilla gorilla

O gorila é o maior primata vivo e, juntamente com as duas espécies de chimpanzés, os animais mais próximos do Homem. O registo fóssil mostra mesmo que gorilas e chimpanzés são mais próximos do Homem que dos orangutangos.

A sua aparência formidável, enorme força e demonstrações de batucadas no peito originaram, apesar disso, a reputações de ferocidade que ainda hoje se mantém.

Na natureza o seu único inimigo é o Homem, pelo que os gorilas macho apenas se tornam agressivos quando em defesa da sua família ou em lutas com outros machos pelas fêmeas.

Os gorilas são animais grandes e pesados mas que se alimentam de matéria vegetal pobre em nutrientes, factos que condicionam não só a sua vida mas também a sua morfologia.

Os seus dentes são muito maiores (especialmente os molares) para conseguirem processar as enormes quantidades de alimentos de que necessita. Estes, por sua vez, funcionam por acção de poderosos músculos da maxila, especialmente os temporais que nos machos se unem na zona média do topo do crânio, ligados à crista sagital. Esta crista, que é bem menor nas fêmeas, afecta grandemente a forma da cabeça do macho gorila.

O crânio dos gorilas macho apresenta ainda impressionantes caninos, os maiores dos Primatas tendo em consideração o tamanho corporal. Com eles os machos podem infligir ferimentos sérios em rivais ou em predadores.

As orelhas são pequenas e as narinas estão rodeadas por pregas nasais, que se estendem até ao lábio superior.

Os gorilas são essencialmente terrestres quadrúpedes, caminhando sobre as plantas dos membros posteriores e sobre os nós dos dedos dos membros anteriores.

São, sem dúvida, grandes apreciadores de fruta mas a base da sua alimentação são folhas, casca de árvore e outros materiais vegetais que crescem em locais relativamente abertos, como pântanos e matas.

Os hábitos alimentares do gorila obrigam-no a passar longas horas por dia a alimentar-se, só para manter o seu peso corporal. Este facto impede-os de percorrer longas distâncias, não mais de 1 ou 2 Km por dia. O território do grupo abrange, no total, cerca de 30 Km2. Assim, os gorilas não podem ser territoriais, pois não conseguiriam percorrer toda sua área em tempo útil para a defender.

Normalmente alimentam-se durante a manhã e a tarde, descansando por uma hora ou duas ao meio do dia.

À noite fazem "ninhos", plataformas de ramos e folhas, que lhes permitem dormir fora da humidade e frio do chão e impedem quedas potencialmente perigosas.

Não existe uma época reprodutora definida, mas os nascimentos são quase sempre únicos, como é comum a todos os Primatas com mais de 1 Kg de peso. Gémeos são muito raros e nascem tão pequenos que geralmente um morre.

Os recém-nascidos pesam cerca de 1,8 Kg e quase não têm pêlos no corpo. Às 9 semanas os jovens começam a gatinhar e às 40 semanas a andar. O desmame ocorre por volta dos 3 anos de idade.

A mortalidade nos primeiros 3 anos de idade é muito elevada, pelo que as fêmeas apenas criam uma vez a cada 6 a 8 anos.

As fêmeas amadurecem sexualmente aos 7-8 anos de idade mas apenas se reproduzem por volta dos 10, enquanto os machos amadurecem um pouco mais tarde. Devido à grande competição entre machos jovens, geralmente apenas se reproduzem por volta dos 15 anos de idade.

De todos os grandes Primatas (família Hominidae), o gorila apresenta o comportamento de grupo mais estável, os mesmos indivíduos deslocam-se juntos por meses e mesmo anos seguidos. Este facto resulta da sua alimentação vegetariana, pois as folhas, ao contrário dos frutos maduros, estão sempre presentes em grande quantidade, permitindo a manutenção de grandes grupos de animais.

Os grupos familiares dos gorilas chegam a incluir entre 30 e 40 indivíduos, embora os mais frequente seja 5 a 10. Destes, em geral 3 são fêmeas adultas, 4 ou 5 crias de idades muito variadas e um macho adulto, designado dorso prateado, devido à pelagem branca prateada no lombo. As fêmeas adultas não são, geralmente, aparentadas pelo que as lealdades não são muito fortes entre elas, ao contrário do que acontece em relação à sua lealdade para com o macho dorso prateado. Estes grupos mantêm a sua estabilidade aparentemente devido à baixa competitividade entre os membros, devida à abundância de alimento vegetal.

Mais de 3/4 das fêmeas jovens abandonam o grupo em que nasceram e juntam-se a outro dorso prateado da zona, nunca a mais de 200-300 metros de distância. Nem sempre permanecem com o primeiro macho que encontram, pois a sua escolha depende da qualidade do habitat do território do macho e da sua capacidade de luta. este último aspecto é fundamental pois é o macho que as protegerá, e às suas crias, de predadores e de outros machos (uma séria ameaça para fêmeas com cerca de metade do tamanho do macho e sem companheiras com quem tenha laços fortes o suficiente para lutarem por elas). 

Cerca de 1/3 das crias que morrem são mortas por machos que não o seu pai. O motivo parece ser o facto de a fêmea, após a morte do filho, voltar a estar disponível para acasalar. Estas situações ocorrem mais frequentemente quando uma fêmea se junta a um novo macho já com uma cria, o que se deverá, na grande maioria das vezes, à morte do macho com quem acasalou.

Cerca de metade dos jovens machos deixam o seu grupo natal na puberdade e deslocam-se, sozinhos ou em grupos de outros jovens machos, por vezes durante anos, até encontrarem fêmeas e fundarem o seu próprio harém. os machos que permanecem no seu grupo fazem-no porque têm acesso a fêmeas férteis, seja porque o grupo é numeroso ou porque o dorso prateado é velho ou pouco agressivo.

Os machos solteiros em busca de companheiras enfrentam os dorsos prateados com as famosas exibições de socos no peito, urros e berros, corridas bruscas e curtas com grande estardalhaço, tudo numa tentativa de intimidar o seu adversário. 

Estas lutas podem tornar-se físicas, pelo que um dorso prateado terá que defender o seu harém com, pelo menos, uma luta séria por ano. Muitas vezes o derrotado é morto, geralmente o macho solteiro. Esta feroz competição inter-machos é claramente a explicação para o acentuado dimorfismo sexual destes animais.

O senso mais recente aponta para uma população total de gorilas de cerca de 125000, a maioria deles nas florestas remotas do Gabão e da República do Congo. Em toda a África, as florestas de que o gorila depende estão a ser abatidas pela madeira e para a agricultura, o que tem sério impacto no efectivo destes animais.

Outra séria ameaça é a caça e o comércio de carne selvagem. Apesar da existência de legislação de protecção nos 9 países que têm populações de gorilas selvagens, a aplicação e fiscalização da aplicação dessas leis é geralmente muito pobre.

Com a manutenção da taxa de desflorestação e de aumento da população humana em África, os únicos gorilas restantes em menos de 150 anos serão os que viverem em reservas, ou seja, cerca de 27000 (devido à área de floresta necessária para a sua sobrevivência) espalhados em enclaves com menos de 2000 indivíduos cada.

No entanto, muitos países empobrecidos e do terceiro mundo estão a fazer mais pela sua fauna selvagem que os seus parceiros ricos ocidentais, pelo que há esperança que a aposta no turismo e numa agricultura eficiente permita a coexistência de Homem e gorila, bem como a conservação das florestas africanas. 

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