Será o Homem uma doença planetária?

Muitos estudiosos têm descrito a espécie humana como uma doença planetária, muito semelhante ao cancro. Consideram o crescimento da civilização algo maligno, que está a destruir o ecossistema global. Esta analogia pode ser descabida e absurda à primeira vista mas é espantosamente correcta. 

Se considerarmos o Homem como o cancro e o meio ambiente como o tecido saudável, a história das actividades humanas revela as quatro características principais dessa doença:

  • crescimento rápido e descontrolado;

  • invasão e destruição do tecido adjacente (ambiente);

  • metástases (colonização e urbanização);

  • indiferenciação (homogeneização e globalização da cultura).

Além disso, modelos matemáticos mostram que os detalhes da disseminação da civilização são muito semelhantes aos do cancro. 

A analogia do cancro resulta até com a equação do impacto ambiental I = PT. O crescimento da civilização tem testemunhado tanto um aumento do número de pessoas p, como um aumento da tecnologia que faz crescer T, a taxa de empobrecimento e poluição do meio por pessoa. Também no cancro, muitas células doentes utilizam mais nutrientes e produzem mais resíduos que as células normais, com menor taxa de crescimento.

Esperemos que esta chocante analogia não se estenda à sua característica última: as células cancerosas acabam por morrer ao matar o seu hospedeiro... 

As células cancerosas não podem, obviamente, pensar mas o Homem pode construir uma sociedade que se assemelhe mais a um tecido saudável, sem crescimento bruto e produzindo menos resíduos. Duas estratégias são possíveis:

  • reduzir p - o crescimento incontrolado da população pode ser substituído por um renovar da população (cada célula é substituída quando morre), não ocorrendo crescimento no total;

  • reduzir T - substituir as tecnologias poluentes e caras do ponto de vista de recursos por outras mais eficientes, que utilizem menos (e renováveis) recursos e sejam menos poluidoras. Esta estratégia reduziria o impacto i no meio per capitaTOPO

A modificação do mediterrâneo

A zona mediterrânica, na qual Portugal se encontra incluído, não se assemelha minimamente ao que foi inicialmente e tal facto deve-se à antiguidade e profundidade da intervenção humana, pois as na sua margem surgiu a civilização ocidental como a conhecemos.

a modificação deste habitat, por acção humana, ocorreu essencialmente em três etapas:

  • 1ª - entre o 8º e o 9º milénio a.C. as populações neolíticas expandiram-se desbastando a floresta, pois eram necessários campos para os cereais e pastagem para os rebanhos. Em seguida, as árvores foram utilizadas como combustível e como material de construção (casas e barcos). Já no século IV a.C. Platão denunciava a a desflorestação perante as autoridades. O recuo da floresta foi de tal modo rápido que, no século II, o imperador romano Adriano teve de tomar medidas para preservar os cedros do Líbano;

  • 2ª - na Idade Média e tempos modernos, estas regiões sofreram perturbações que acabaram por desequilibrar o ecossistema. Com o fim do império romano, a insegurança causada pelas pilhagens de piratas, invasões e guerras entre tribos levaram a população a refugiar-se nas terras altas, com a resultante sobrecarga dessas zonas (abate de árvores e acentuar da erosão). A especialização forçada da agricultura foi o outro grande problema da época, pois os grandes senhores que exigiam ganhos imediatos com as culturas, levaram à criação de ovelhas e plantação de cereais em quase toda a zona. O material de erosão carregado pelos rios levou à criação de terraços na costa e ao assoreamento dos portos;

  • 3ª - com o regresso da paz a estas zonas no século XIX, a maioria das populações abandonou as montanhas e as povoações multiplicaram-se. O abandono das montanhas não as beneficiou pois as pastagens retomaram a erosão sem o tradicional coberto vegetal e as planícies sofreram a modernização inevitável, mas não compatível com o ecossistema tradicional (sobrepopulação, agricultura intensiva, poluição, etc.).

Este tipo de intervenção humana teve graves consequências ao nível da biodiversidade mediterrânica ao longo dos séculos e, em locais remotos, ainda pode ser observada.

Veja-se o caso de uma floresta de azinheiras sobre rocha calcária. É composta por três estratos, atingindo as copas das árvores 10 a 20 metros. as copas tocam-se, obtendo-se uma taxa de cobertura do solo de 100%. O solo é fértil, escuro como o solo das florestas.

Dá-se um desbaste da floresta e o terreno é usado para a agricultura de cereais ou para pastagem. Segue-se um abandono mais ou menos longo e, eventualmente, várias retomas e abandonos. O solo, exposto aos elementos, no Verão seca e greta, no Inverno, com as chuvas, perde os seus horizontes férteis por erosão. Já não será uma floresta de azinheiras que irá crescer aqui mas um maquis, uma formação de zimbros com apenas 10 metros de altura e muito aberta. O sub-bosque existe, denso e odorífero, amante do sol.

Se a intervenção humana continuar, já não será o maquis a crescer na zona mas a garrigue, um povoamento ainda mais baixo (3 a 5 metros), apenas com dois estratos e, muito importante, extremamente aberto (apenas cerca de 50% do solo está coberto). Entre os zimbros e os carrascos já não há solo, os pedregulhos emergem da terra. os coelhos abundam mas a fauna florestal desapareceu.

Mais algumas dezenas de anos de queimadas e pasto e atinge-se o último estádio da degradação do povoamento mediterrânico: a estepe ou o ermo (cuja raiz significa deserto). Apenas alguns tufos de cistos dominam a cobertura de gramíneas baixas. A não ser que se "feche" o terreno durante dois séculos, a floresta não regressará mais. Estas estepes formadas pelo Homem, mantidas pelo pasto, desbaste e incêndios, confundem-se comas as estepes naturais das margens semiáridas mediterrânicas, como em Marrocos.     TOPO

Sustentabilidade

Os problemas ambientais atingiram uma tal proporção que exigem atenção de todos os quadrantes da sociedade. Com início nos anos 80 do século XX, o movimento da sustentabilidade não busca soluções para problemas específicos mas sim uma coexistência do Homem com o ambiente. Significa ir ao encontro das necessidades humanas actuais sem reduzir a qualidade de vida das gerações futuras e do ambiente em que viverão.

Esta coexistência atinge-se com a utilização de tecnologias "verdes" (que usam energias renováveis e reciclam materiais), que originam uma economia sustentada, produtora de riqueza e postos de trabalho para muitas gerações, sem degradar o ambiente.

O movimento da sustentabilidade usa três tipos de abordagem:

  • tenta especificamente evitar que todos os recursos sejam usados e esgotados. Enfatiza, portanto, a redução no início e não no fim, ou seja, os resíduos são considerados um sintoma e não uma causa da crise ambiental que se vive;

  • a degradação ambiental tem muitas causas, principalmente sociais e económicas. A pobreza é uma das causas mais importantes da degradação dos recursos ambientais, pelo que soluções baseadas na economia de mercado estão a ser preferidas, em lugar de soluções legais. Assim, considera-se muito mais fácil e eficaz emitir taxas e impostos sobre carvão, gasolina e outras substâncias poluentes, que criar leis regulando a quantidade de poluição que pode ser produzida. O alto preço da gasolina incentiva as pessoas a andar mais de transportes públicos ou a comprar carros mais eficientes no consumo. Este tipo de abordagem economicista revela que, longe de ser anti-ambiente, o negócio pode beneficiá-lo grandemente. Não são os actos de compra e venda que causam danos mas sim que tipo de artigo está a ser comprado ou vendido: a produção e venda de mobiliário feito com madeiras exóticas destrói a floresta tropical mas a castanha de caju, a borracha e muitos outros produtos da mesma floresta tropical podem ser extraídos e vendidos com pouco, ou nenhum, dano a longo prazo para o ambiente;

  • encoraja-se o desenvolvimento de grupos locais de acção, em vez de se depender dos grandes grupos ambientalistas nacionais ou mesmo internacionais. As comunidades estão cada vez mais activas na resolução e detecção de problemas ambientais a nível local, com acesos debates sobre incineração, aterros, projectos imobiliários, participando naquilo que muitos designam activismo de raiz.

As três características do movimento da sustentabilidade surgem da vontade de resolver os problemas ambientais, reflectindo a necessidade de reduzir o seu custo social. Este movimento aposta na mudança de atitude e modo de vida das populações, passando o centro das atenções para o ambiente e não para o Homem, a natureza deve ser conservada porque tem elevado valor intrínseco, não para melhorar as condições de vida humanas.

No entanto, estamos num ponto de viragem: a degradação ambiental decorre actualmente a uma tal taxa, que, segundo muitos especialistas, se atingirá o ponto de não retorno dentro de 10 ou, no máximo, 40 anos. Se a sustentabilidade não for alcançada em breve, o ambiente estará de tal modo degradado, com o aumento excessivo de população e tecnologias danosas, que muito poucos poderão sobreviver, pelo menos com uma qualidade de vida aceitável.                                      TOPO

Impacto ambiental

O que podemos fazer para evitar o colapso ambiental que espreita o nosso futuro próximo? Fundamental nessa compreensão é o conceito de impacto ambiental e porque o Homem o causa.

O impacto ambiental refere-se à alteração do ambiente pelo Homem e suas actividades. Dois tipos básicos de impacto ambiental são o esgotar de recursos e a poluição. Nestes casos, há demasiados gastos e resultados (poluição). A redução dos gastos pretende diminuir tanto o esgotar de recursos como a produção de resíduos. Pelo contrário, se apenas forem reduzidos os resultados, apenas se reduzirá a poluição mas a degradação de recursos continuará.

A equação do impacto ambiental já referida mostra que o crescimento populacional e a industria tradicional são as duas forças principais conduzindo ao esgotar de recursos e poluição.

O número de seres humanos na Terra actualmente ultrapassa os 6 mil milhões, mas durante milhões de anos poucos humanos habitavam o planeta num dado tempo. A tecnologia evoluiu, assim como o domínio do Homem sobre o ambiente, dando-se a verdadeira explosão da população humana no início do século XX, com a ajuda da industrialização e medicina moderna, especialmente na redução da mortalidade infantil (a cada ano a população humana tem um ganho bruto de cerca de 95 milhões de pessoas).

O crescimento exponencial da população humana é inerente à reprodução biológica, mas esta é geralmente limitada pela capacidade do meio em manter o elevado número de descendentes. Portanto, a pergunta é: quanto tempo mais pode a população humana crescer, até que encontre limitações ambientais? A resposta depende de quantas pessoas pode a Terra sustentar, o que, por sua vez, depende da qualidade de vida que se queira assumir.

Apesar de tudo, as estimativas apontam para que a capacidade da Terra esteja algures entre os 6 e os 8 mil milhões de pessoas. Se esta estimativa estiver correcta, o crescimento populacional tem que ser travado muito rapidamente, para evitar uma ruptura. Infelizmente, todas as estimativas apontam para que o crescimento continue até aos 11 mil milhões, antes de estabilizar em meados ou final do século XXI.

O segundo factor básico na equação do impacto ambiental é a tecnologia. A tecnologia industrial tradicional aumentou o impacto ambiental de modo geral porque aumentou o impacto ambiental per capita:

Impacto ambiental geral = população x tecnologia = número de indivíduos x (impacto/indivíduo)

Este aumento do impacto ocorre devido ao aumento do esgotamento dos recursos e da poluição. No entanto, a tecnologia não está obrigada a causar este efeito negativo no meio. Muitas tecnologias "verdes" já usam menos recursos e são pouco poluentes, o que as torna muito mais eficientes. A substituição de máquinas que queimam carvão por outras, movidas a energia solar, por exemplo, conserva combustíveis fósseis não renováveis e elimina muitos dos poluentes deles resultantes. A diminuição do uso de pesticidas e herbicidas é outro bom exemplo desta situação.

Estes dois factores em conjunto levaram a um aumento exponencial do impacto ambiental humano, pois se as tecnologias e a população aumentam, mais materiais e energia se deslocam através dessa mesma sociedade. Isto acelera o esgotamento dos recursos ambientais. Além disso, os materiais e energia que se deslocam têm que ter um local (sumidouro) para onde ir após a sociedade já não precisar deles. Assim, resíduos sólidos, poluição do ar e da água e outros produtos acabam no ambiente. Uma boa medida destes factos é a seguinte constatação: as chamadas nações desenvolvidas têm 22% da população mundial mas consomem 88% dos recursos naturais mundiais e ainda 73% da energia.                     TOPO

Porque degradamos e poluímos? 

O ambiente como um bem comum

Em 1968, o biólogo Garrett Hardin escreveu um artigo famoso intitulado "The tragedy of the commons". Nele argumentou que propriedade mantida em comum por grande número de pessoas irá, inevitavelmente, ser destruída ou, pelo menos, sobre-utilizada até que se degrade. 

Deu como exemplo uma pastagem comum a toda uma aldeia, onde cada pastor pode colocar livremente o seu gado. O pastor que sobre-utilize a pastagem vai também obter o máximo rendimento. Cada vaca que o pastor coloque a mais na pastagem vai beneficiá-lo mas a comunidade no seu todo irá pagar o preço da sobre-pastagem. Se os benefícios vão para o indivíduo mas os prejuízos são divididos por toda a comunidade, a opção racional de cada um será colocar mais e mais vacas na pastagem. 

O património comum recompensa comportamentos que levam a uma degradação desse mesmo património e pune os indivíduos que são mais responsáveis e cuidadosos. Os pastores com menos vacas na pastagem terão menos benefícios, enquanto a pastagem se deteriora na mesma, devido à acção dos pastores que têm vacas em número excessivo.

Este problema com o património comum já era conhecido muito antes de 1968, já Aristóteles comentava: quanto mais donos, menor o cuidado

A pastagem de Hardin exemplifica os problemas que resultam de qualquer parte do nosso ambiente ser tratado como um bem comum. A não ser que leis e regulamentos existam, a sobre-exploração vai de certo ocorrer das duas formas habituais:

  • recursos comuns serão esgotados pelo consumo excessivo;

  • sumidouros comuns irão ser sobrecarregados com poluentes.

É esta a situação que temos com a atmosfera (sumidouro comum), oceanos (recurso e sumidouro comuns) ou florestas (recurso e sumidouro comuns). Saliente-se que alguns destes recursos ou sumidouros são partilhados por muitas nações, o que dificulta enormemente a resolução de muitos dos problemas ambientais mais graves, que necessitam de acordos internacionais. Novamente neste caso, o Mediterrâneo surge como exemplo, pois é um dos recursos mais sobre-explorados e um dos sumidouros mais poluídos do mundo.

Para salvar o património ambiental comum, o fluxo de energia e recursos nas sociedades tem que ser reduzido, diminuindo o esgotamento e a poluição do meio. As forças económicas que promoveram o crescimento populacional e a utilização de tecnologias danosas para o ambiente surgiram devido à subvalorização do ambiente no passado. Os custos reais da utilização do ambiente como recurso e sumidouro não foram incorporados na economia global, o meio era considerado um bem gratuito ou fonte de materiais baratos, como madeira ou minerais.

Esta visão levou a tecnologias ineficientes e altamente poluidoras, bem como a uma explosão demográfica nos países em desenvolvimento. A pobreza está altamente correlacionada com altas taxas de crescimento populacional e as populações dos países tropicais ricos em recursos naturais são frequentemente pouco recompensadas pelos seus recursos, quando comparadas com preços nas nações desenvolvidas.   TOPO

Redução do impacto tecnológico

As nações industrializadas do hemisfério norte contribuem grandemente para a degradação ambiental com as suas tecnologias industriais tradicionais, desenvolvidas numa época de recursos abundantes. Estas não só são desregradas e poluidoras, como dependem altamente de recursos não renováveis. A solução, obviamente, é reduzir o impacto tecnológico, o T da equação de impacto.

Existem duas possibilidades de atingir este objectivo, nenhuma das quais implica sacrifícios ou perda de qualidade de vida, pelo contrário, pois melhoram a saúde humana e o ambiente:

  • reduzir a utilização de tecnologia - há muito que se sabe que a utilização de máquinas pelo Homem pode causar problemas. Ir para o trabalho de bicicleta em vez de carro, comprar produtos com menos químicos, ter menos electrodomésticos em casa, são apenas algumas formas de reduzir a sua dependência da tecnologia;

  • usar tecnologia sustentável - usar tecnologias "verdes" ou "amigas do ambiente" em vez de tecnologias baseadas em combustíveis fósseis irá reduzir grandemente o impacto tecnológico. As tecnologias sustentáveis permitem ao Homem satisfazer as suas necessidades com mínimo impacto sobre o ambiente, nomeadamente energias solar ou eólica, reciclagem de materiais, etc. Estas tecnologias não são novidade, apenas não foram implantadas por motivos puramente sociais e económicos. 

    Quando os recursos não renováveis são baratos, são desperdiçados pois não existe incentivo para aumentar a eficiência, reciclar ou substituí-los. Quando o preço no  mercado não reflectem os verdadeiros custos de um produto ou serviço, os economistas designam a situação falha de mercado

    A maioria os problemas ambientais resultam de falhas de mercado: preço da electricidade produzida em centrais nucleares não inclui o custo da eliminação dos resíduos nucleares ou o preço da água não inclui o esgotamento dos lençóis freáticos. A grande maioria dos economistas considera que a correcção das falhas de mercado poderia ser feita com ajustamentos nos preços de produtos e serviços, de modo a incluir os custos ambientais (as chamadas taxas verdes): depósito em recipientes de vidro para incentivar a reciclagem, taxas no consumo de gasolina e carvão para incentivar a eficiência de utilização e a substituição por recursos menos poluentes, taxas sobre o saco ou quilograma de lixo, poluidor/pagador, etc. 

    Quando avanços na limpeza da poluição são grandemente divulgados, a verdadeira sustentabilidade resulta da redução dos gastos, já vimos que a redução do esgotamento dos recursos reduz também a poluição. Como é este objectivo alcançado? De três formas:

    • aumento da eficiência irá reduzir o fluxo de materiais e energia através da sociedade, diminuindo a utilização de recursos per capita. Máquinas menores e mais leves, por exemplo, realizam as mesmas tarefas com menor gasto de energia. Lâmpadas incandescentes desperdiçam 95% da electricidade que utilizam produzindo calor em vez de luz, electricidade essa que seria poupada na sua troca por lâmpadas fluorescentes. Além das vantagens ambientais, o aumento da eficiência tem duas vantagens económicas imediatas. A primeira é que a eficiência geralmente se paga a si própria, por vezes quase imediatamente. A segunda é que o aumento da eficiência tende a produzir mais emprego;

  • reciclagem e reutilização - reutilizar significa usar o mesmo recurso várias vezes e da mesma forma (uma garrafa de vidro pode ser usada de novo com o mesmo refrigerante, depois de limpa), enquanto reciclar significa usar várias vezes o mesmo recurso mas de forma diferente (a mesma garrafa de vidro já referida pode ser fundida para fabricar um outro artigo de vidro). De modo geral, a reutilização é mais económica que a reciclagem, pois não implica alterações no produto. 

    No entanto, ambas as situações são menos onerosas que a recolha de novos recursos do meio (o corte de mais árvores para papel ou extracção de alumínio para latas). Águas residuais, papel, plástico e muitos outros materiais podem ser reciclados. A reutilização e a reciclagem criam, além disso, novos postos de trabalho: por cada 15000 toneladas de resíduos sólidos reciclados surgem 9 postos de trabalho, enquanto que pela incineração dos mesmos resíduos apenas 2 pessoas são empregadas;

  • substituição - substituir um recurso não renovável por um renovável ou um poluente por outro não poluente são soluções obviamente benéficas para o ambiente. É frequente que a substituição permita obter ambos os benefícios, como com a substituição de combustíveis fósseis por energia solar. Usar produtos de papel em vez de plásticos, formados a partir de combustíveis fósseis e de longa duração no ambiente é outra possibilidade.       TOPO

Redução da população

Cerca de 90% da população mundial encontra-se me países em desenvolvimento, localizados quase sempre no hemisfério sul do planeta. Assim, o aumento da população é, nessas zonas, a principal causa do impacto ambiental e do fluxo de energia e recursos através da sociedade.

Esta situação é frequentemente conduzida pela pobreza. Populações pobres tendem a ter mais filhos por variadas razões: falta de educação sobre controlo de natalidade, falta de oportunidades para as mulheres, necessidade das crianças e jovens para ajudar nas tarefas e para cuidar dos mais velhos. O resulta é um ciclo vicioso em que o aumento populacional conduz à pobreza, pois o número excessivo de pessoas diminui o padrão de vida. Além disso, o excesso depopulação diminui o dinheiro disponível para investimentos na educação, equipamentos e outras necessidades para o desenvolvimento económico.

Poderá este ciclo vicioso ser quebrado? Décadas de experiência mostram que é fundamental abordar as causas económicas desta situação. Os pobres não mostram interesse por conceitos algo distantes como o aquecimento global ou os direitos dos animais porque a sua preocupação imediata é a sobrevivência. Muitos referem a educação com a solução de todos os problemas mas não será, com certeza suficiente, é necessário atacar as raízes do problema. Proteger legalmente o ambiente (criação de zonas protegidas ou proibindo a caça, por exemplo) também raramente funciona pois populações desesperadas violam essas leis facilmente. Assim, reduzir a pobreza não irá apenas eliminar as causas do crescimento populacional descontrolado, como também reduzirá a degradação do ambiente.

Como combater a pobreza, então? Em 1961, a assembleia geral das Nações Unidas deliberou que os países ricos doariam 1% do seu produto interno bruto aos países em desenvolvimento. No entanto, em vez de melhorarem as economias desses países decaíram ainda mais. O fosso entre os rendimentos num país ocidental e países mais pobres atinge as 20 vezes e está sempre a aumentar, pois estes estão a pagar juros altos sobre empréstimos que realizaram no passado, numa tentativa de melhorar as condições de vida do seu povo. Como consequência destas dívidas, e contrariando o espírito de ajuda que se pretendia, o fluxo monetário bruto é, desde 1982, de sul para norte: os países ricos recebem mais dinheiro dos países pobres do que lhes fornecem!

É facto que o 1% de ajuda proposto pelas nações Unidas nunca foi atingido. Em 1994, por exemplo, 10 mil milhões de euros foram para ajuda humanitária das nações Unidas, uma quantia que é menos de 0,17% do produto interno bruto dos Estados Unidos apenas (um valor que é anualmente gasto só na manutenção de relvados públicos americanos) e muito menor que os 300 mil milhões de euros gastos pelo programa de defesa americano (apesar do aumento de refugiados de países em desenvolvimento ser uma ameaça muito mais importante à segurança nacional).

Tem sido salientado que este tipo de ajuda não deveria ser considerada caridade pois se o valor real dos recursos em que estes países são ricos fosse pago pelo ocidente, eles não necessitariam de caridade. Um pagamento adequado dos recursos utilizados pelos países ricos (produtos florestais ou capacidade de absorver dióxido de carbono das florestas, por exemplo, por difícil que seja de contabilizar) ajudaria a acabar com a pobreza muito mais eficientemente que ajudas internacionais. Seria, no entanto, crucial que esta nova riqueza fosse usada para tecnologias eficientes e não poluentes, na reciclagem e reutilização dos recursos, etc., não para que seguissem o padrão de desenvolvimento que o ocidente já demonstrou ser altamente destrutivo.                                                                     TOPO

O papel do indivíduo

Já tem sido referido numerosas vezes que os problemas ambientais tem origem nos valores individuais, ou ainda que o ambiente não está a ser destruído pelos presidentes das grandes multinacionais mas sim por exigência popular. Estas afirmações significam que as companhias apenas produzem o que a população compra e que apenas destruirão e poluirão enquanto a sociedade permitir que tal atitude seja rentável.

Afinal, porque os nossos valores nos empurram para a destruição do ambiente? Cada um de nós habitualmente apenas se preocupa com o que nos acontece aqui e agora, ou, quando muito, num futuro muito próximo. Mas a evolução da nossa tecnologia e civilização não foi acompanhada pela evolução do nosso modo de pensar, muito adequado a uma vida de fuga a predadores e a busca de alimento para a sobrevivência. As nossas acções têm, agora, um alcance muito maior (global) e os seus efeitos serão notados durante muitos séculos. É necessário planeamento a longo prazo e cooperação internacional.

Conclui-se, então, que o maior obstáculo ao desenvolvimento de uma sociedade sustentável é a tendência humana para apenas pensar no aqui e agora. É esse o motivo porque a história nos tem provado que o Homem nunca conseguiu gerir eficientemente nada por muito tempo. Todos iniciamos a vida egoístas, pois é essa a visão da criança mas muitos crescem e desenvolvem preocupação com outros humanos, animais, espécies e planeta como o todo, sucessivamente. Se mais de nós tiverem essa visão, será mais fácil para a sociedade pagar impostos verdes, votar em políticos que defendam planos económicos sustentáveis, soluções que vão mais além do aqui e agora.

A grande maioria dos sociólogos considera que até agora a tendência tem sido a inversa, a civilização moderna promoveu o individualismo mas muitos casos individuais dão-nos esperança no futuro da humanidade e da Terra, indivíduos em que a preservação do ambiente implica a continuação da pobreza ...

Como sempre tem sido, existem posições divergentes quanto à possibilidade de se atingir esse equilíbrio sustentado que pretendemos: de um lado os optimistas dizem que o engenho humano encontrará uma solução, do outro os pessimistas que dizem que o Homem acabará por destruir totalmente o ambiente. Tanto uma como outra podem ser igualmente pouco produtivas, pois o excesso de optimismo torna as pessoas pouco preocupadas (o futuro acabará por trazer boas notícias!), tal como o pessimismo exagerado que desespera e leva a pensar que nada pode ser feito para evitar a calamidade (logo porque preocupar-se com isso agora?).

Assim, faz sentido uma posição de meio termo, reconhecendo que os problemas ambientais existem e são extremamente graves, necessitando de atenção nos próximos anos ou décadas, para que não descambem numa degradação ambiental a larga escala. Esta posição moderada assenta no princípio da precaução, que considera que se há incerteza, é melhor assumir que existe problema e enfrentá-lo (mais vale prevenir que remediar, já diziam os nossos avós).

Assumindo essa posição, que questões ambientais são mais prementes?

  • situações de alto risco - problemas globais e que afectarão muitas gerações no futuro, como a destruição e alteração dos habitats, extinção de espécies, destruição da camada de ozono estratosférica, alterações do clima;

  • situações de médio risco - utilização de pesticidas e herbicidas, poluição das águas superficiais, chuvas ácidas, poluição do ar;

  • situações de baixo risco - derrames de hidrocarbonetos, poluição dos lençóis freáticos, partículas radioactivas no ar, etc.

Esta lista é claramente reduzida mas dá-nos uma ideia do tipo de problemas que enfrentamos. Alterações muito profundas serão necessárias, a todos os níveis de pensamento e atitude mas é possível alcançar o mundo sustentado.    TOPO

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