Mabeco

Lycaon pictus

Os mabecos, ou cães selvagens africanos, podem ser descritos por duas palavras fundamentais: sociabilidade e mobilidade.

Estes canídeos muito especiais estão criticamente ameaçados no seu habitat, estimando-se que restem cerca de 5000 animais. A perda de habitat, a raiva e o cruzamento com cães domésticos está a afectar seriamente a espécie.

O seu território já se estendeu por toda a África mas encontra-se actualmente reduzido a pequenas áreas dispersas, desde áreas semidesérticas a zonas alpinas. No entanto, o seu habitat preferido é a savana.

Pesando entre 20 e 33 Kg, os mabecos são predadores relativamente pequenos, cuja força reside no trabalho de equipa. A pelagem é curta e escura, com um padrão particular de manchas irregulares brancas e amareladas em cada indivíduo. O focinho é sempre escuro e a ponta da cauda sempre branca.

Na realidade, os mabecos são os canídeos menos característicos de toda a família. Exclusivamente carnívoros, têm um crânio com focinho curto e poderoso, contendo dentes aguçados e com o último molar pouco desenvolvido. Perderam, ao contrário dos restantes canídeos, o quinto dedo dos membros anteriores. 

As orelhas grandes e arredondadas tão características desta espécie têm provavelmente relação com o arrefecimento do corpo, mas realçam o papel do som nos contactos sociais. É vulgar, logo após o início de uma caçada, que os membros da matilha estejam bastante afastados uns dos outros, mantendo-se em contacto através de latidos suaves, que são capazes de detectar a mais de 2 Km de distância. Após a caçada, os membros da matilha reagrupam-se seguindo esses sons.

Apesar de dependerem da visão para perseguir a presa, os mabecos caçam preferencialmente ao amanhecer e ao entardecer, tirando partido das temperaturas mais baixas. Também caçam de noite, em períodos de lua cheia. A matilha reúne-se para caçar duas vezes por dia, portanto, mas raramente sai vitoriosa mais do que duas vezes a cada 3 dias.

Os mabecos caçam um enorme variedade de presas, desde coelhos e lebres, a crias de búfalo e zebras, embora a sua presa preferida sejam antílopes de médio porte: na sul de África as impalas compõem mais de 85% das presas capturadas. Algumas matilhas especializam-se em presas que outras raramente caçam, no Serengeti, por exemplo, 2 matilhas são conhecidas por caçar zebras, enquanto no Botswana apenas outras 2 são capazes de capturar facoqueros e avestruzes.

A caçada inicia-se com um reunir meio letárgico dos animais, após terem descansado durante o calor do dia. Realizam-se cumprimentos rituais, onde se incluem lambidelas faciais, poses humildes e vocalizações excitadas por parte dos mais novos. 

Após as saudações, os cães iniciam a marcha, seguindo a direcção indicada por um ou dois dos mais velhos, que são seguidos pelos restantes numa linha mais ou menos desorganizada. Em pouco tempo ganham ritmo, trotando sem esforço que podem manter durante horas, nas temperaturas mais baixas.

A matilha é oportunista, caçando o que lhes aparece. Por vezes acercam-se da presa em plena vista, de orelhas para trás, perseguindo-a quando foge. É comum cada membro da matilha perseguir uma impala diferente, obtendo-se mais do que uma morte. Após a captura, o cão chama os restantes membros da matilha e partilha a presa.

O principal método de caça é perseguir apresa até que se canse, permitindo aos cães derruba-la. Em terreno aberto, mabecos já foram cronometrados a correr a 60 Km/h. 

Após a morte da presa, os mabecos alimentam-se com grande excitação, que apenas é igualada pela precisão com que desmembram o animal abatido.

Estes canídeos distinguem-se das restantes espécies de matilha pelo seu estranho sistema social, exactamente o inverso do que é habitual. Na matilha todos os machos são aparentados entre si e todas as fêmeas são aparentadas entre si mas não com os machos. As fêmeas migram para a matilha, enquanto os machos permanecem no grupo em que nasceram.

A matilha tem em média 7 ou 8 membros adultos, mas pode ter entre 2 e mais de 30. Matilhas com mais de 50 indivíduos existem mas raramente duram mais que alguns meses. Quando o número ultrapassa os 30 membros, com crias de 3 ou 4 ninhadas, a matilha geralmente divide-se, geralmente por separação de grupos de indivíduos do mesmo sexo. Uma nova matilha forma-se quando um grupo de fêmeas encontra um grupo de machos não relacionados com elas, sendo liderada por um par dominante ou alfa.

A reprodução é monopolizada pelo casal alfa, e muitos adultos nunca chegam a procriar, ajudando apenas a prover às crias do par dominante. Geralmente são tios e tias das crias, pelo que, na prática, estão a ajudar a perpetuar os seus genes também. Toda a matilha é muito unida, brincando e socializando frequentemente.

Os mabecos estabelecem uma toca, onde, cerca de 1 mês após a formação da matilha, as crias nascem. A toca é vulgarmente um buraco escavado por um facoquero ou por um porco espinho. As ninhadas são as maiores dos canídeos, em média 10 crias.

Com 4 ou 5 semanas as crias começam a comer carne, regurgitada por todos os membros da matilha e são desmamados às 10 semanas. A partir das 15 semanas seguem a matilha na caçada, sempre debaixo de olho dos adultos, que os conduzem à presa assim que esta é abatida. As crias são as primeiras a alimentar-se e só quando saciadas os adultos comerão o que restar da carcaça.

Embora atinjam a maturidade aos 14 meses, os mabecos raramente se reproduzem antes dos 2 anos de idade, permanecendo na matilha para ajudar a cuidar dos seus irmãos. Os machos que deixam a matilha dispersão o dobro da distância que as fêmeas na mesma situação, por volta do 3 ano de vida.

Com grande quantidade de presas, a densidade de mabecos é de apenas uma matilha por 400 Km2, enquanto em condições piores chega a ser de apenas uma matilha por 2000 Km2.

Tal como muitas outras espécies predadoras, os mabecos são perseguidos por atacarem o gado, pois necessitam de vastas áreas de território, sendo abatidos a tiro ou feridos gravemente em armadilhas. É frequente serem atropelados por carros e são susceptíveis a doenças contagiosas, como a raiva. Adiciona-se o facto de os leões e hienas serem uma séria ameaça para estes cães.

O futuro da espécie depende de se evitar a perseguição directa, bem como de uma correcta gestão das terras.

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