Ornitorrinco

Ornithorhynchus anatinus

Desde que o primeiro espécime seco de ornitorrinco foi enviado para Inglaterra em 1798 que este animal tem estado rodeado de controvérsia. 

A princípio foi considerado uma fraude, o resultado de se ter unido um bico de pato com corpo de mamífero. Mesmo quando foi comprovada a sua existência, a espécie não foi considerada um mamífero, pois apesar de ter pêlo, tinha um sistema reprodutor semelhante aos dos répteis e aves. Concluiu-se (correctamente) que o animal punha ovos e (incorrectamente) não poderia ser um mamífero, pois todos os mamíferos conhecidos na época eram vivíparos. 

Actualmente a classificação do ornitorrinco não é posta em causa, pois verifica-se nele  a característica essencial (de onde deriva o nome da classe) dos mamíferos, ou seja, a presença de glândulas mamárias.

Com cerca de 1,7 Kg de peso, o ornitorrinco é menor que geralmente se pensa. As fêmeas são menores que os machos e os jovens têm cerca de 85% do tamanho adulto quando atingem a independência. 

O corpo do ornitorrinco é hidrodinâmico, totalmente coberto com uma densa camada de pêlo impermeável, excepto nas patas e "bico". A pelagem é castanha escura no dorso e prateada ou castanha clara ventralmente, especialmente nos jovens, que têm pelagem mais clara. 

O "bico" parece, à primeira vista, o de um pato, com as narinas na parte superior mesmo na extremidade, mas é macio e flexível. Está coberto com uma rede de receptores eléctricos e tácteis, sendo usado para localizar alimento e orientação debaixo de água. Quando mergulha, os olhos e ouvidos são fechados por uma única prega de pele. As narinas também fecham. 

Atrás do "bico" existem duas bolsas internas nas bochechas, que abrem para a boca. No seu interior podem ser encontradas saliências córneas (setas), que substituem funcionalmente os dentes, perdidos pelos jovens logo que atingem a maturidade. Estas saliências são mais achatadas à medida que se aproximam do crânio, permitindo a mastigação. As bolsas armazenam alimento, enquanto este é mastigado e escolhido.

Os membros são pequenos e ficam muito junto ao corpo. Os membros posteriores têm membranas interdigitais reduzidas, sendo usados na água como leme, enquanto os anteriores apresentam membranas interdigitais bem desenvolvidas e são a  principal forma de propulsão. Nos membros anteriores existem unhas largas, usadas para caminhar ou escavar tocas, situação em que a membrana interdigital se dobra para trás.

Os tornozelos dos machos apresentam um espinho córneo, oco e ligado a uma glândula de veneno localizada na coxa. O espinho é uma arma usada no combate com outros machos.

Este veneno causa dores extremas no Homem, pois, pelo menos um dos seus componentes actua directamente nos receptores de dor humanos. Os restantes actuam causando inflamação e inchaço. 

A cauda é achatada e larga, servindo como zona de armazenamento de gordura.

O ornitorrinco é um animal principalmente nocturno, alimentando-se de invertebrados que vivem no lodo do fundo dos lagos e rios em que vive. Esta dieta seria, aparentemente, concorrente da de muitos peixes não nativos introduzidos na Austrália mas os ornitorrincos coexistem com facilidade com eles, sem que se detectem problemas. O território do ornitorrinco pode variar entre 1 e 7 Km. 

A temperatura corporal habitual do ornitorrinco é de cerca de 32ºC e quando, no Inverno, as temperaturas do ar e da água se aproxima do ponto de congelação, tem a capacidade de aumentar a sua taxa metabólica para a manter. Bom isolamento, fornecido pela pelagem espessa e tecidos, bem como um eficiente sistema de contracorrente nos membros nus, permitem um eficiente controlo da temperatura. As tocas que escava também fornecem abrigo, tanto no Inverno como no Verão.

O acasalamento decorre na água, onde o macho persegue a fêmea e a agarra pela cauda. Esta irá produzir, em média, 2 ovos com 1,7x1,5 cm, donde emergem jovens que serão alimentados com leite produzido ventralmente pela mãe, que não apresenta bolsa. O leite escorre pelo pêlo.

Os detalhes reprodutores não são claros mas pensa-se que a o período de gestação deve ser de cerca de 2-3 semanas e o de incubação deve ser de cerca de 10 dias.

As crias permanecem na toca durante 3 a 4 meses, após o que passam a capturar alimento na água junto com a progenitora. Não é claro quanto tempo mais recebem leite, após a saída da toca.

As fêmeas jovens só se reproduzem pela primeira vez aos 2 anos de vida, e daí para a frente a cada 2 anos, em média. Em média, os ornitorrincos vivem 10 anos, embora em cativeiro tenham sobrevivido até 17 anos.

Apesar desta baixa taxa reprodutiva, os ornitorrincos recuperaram da virtual extinção, em certas áreas, desde a sua protecção em 1900.

O ornitorrinco deve o seu sucesso à ocupação de um nicho ecológico duradouro, mesmo no continente mais árido do mundo. No entanto, precisamente devido a essa especialização, o ornitorrinco é muito susceptível a alterações do seu habitat, pelo que cuidados redobrados devem ser observados nessa área, para garantir a sobrevivência deste organismo único.   TOPO

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