Tigre da Sibéria

Panthera tigris

Poucos animais têm tido um papel tão importante no imaginário humano como o poderoso tigre: desde vilão a protector dos indefesos, todos os papéis lhe têm sido atribuídos. Actualmente tem um novo, o de símbolo da luta pela conservação das espécies.

Geralmente considerado o maior felídeo vivo, o tigre é, no entanto, muito semelhante ao leão em tamanho. Os maiores exemplares podem ser encontrados no subcontinente indiano e na Rússia, onde os machos têm entre 180 e 300 Kg de peso. Os menores são os tigres de Sumatra, que oscilam entre os 100 e 150 Kg de peso.

As características especializadas necessárias para perseguir, emboscar e matar a presa têm sido aperfeiçoadas por todos os felídeos, de tal forma que, além do tamanho e coloração da pelagem, poucas variações encontramos entre as diferentes espécies.

Os tigres, tal como outros grandes felinos, dependem de presas muito maiores que eles, pelo que apresentam membros anteriores curtos e fortes, com garras retrácteis longas  e aguçadas, o que lhes permite segurar um animal grande após o primeiro contacto.

O crânio é achatado, aumentando o poder das mandíbulas. Os tigres geralmente matam a presa com uma forte mordida na zona posterior do pescoço, embora possam igualmente apertar a traqueia e sufocar o animal.

Totalmente única do tigre á a sua pelagem de fundo laranja e branco com listras negras, que são identificativas de cada animal. 

Os tigres brancos, tão populares nos jardins zoológicos e circos, que não são animais albinos pois apresentam listras cor de chocolate e olhos azuis, são todos descendentes de Mohan, um macho de Bengala capturado pelo marajá de Rewa, Índia. Tigres quase totalmente negros também têm sido registados na Índia mas, tal como os seus primos brancos, são extremamente raros na natureza.

Apesar de todas estas variações da coloração de fundo, com os animais mais escuros a viverem nas florestas húmidas da Indonésia e Índia, é comum a todos a presença de listras escuras, que lhes fornecem uma espantosa camuflagem e permitem emboscadas com elevada percentagem de sucesso. 

A alternância de sol e sombras alongadas de ervas altas, arbustos e árvores que encobre perfeitamente o tigre deve ser dos poucos pontos em comum que os habitats onde se podem encontrar estes animais têm: desde florestas tropicais húmidas, planícies de erva alta, florestas pantanosas fluviais, mangues, florestas frias, entre muitos outros. Desde que exista cobertura vegetal densa, acesso a água todo o ano nas regiões quentes e alta densidade de ungulados de grande porte, o tigre sentir-se-á à vontade.

A disponibilidade de veados, bois e porcos selvagens, que compõem a maior parte da sua dieta, condicionam não só a distribuição mas também o comportamento e a estrutura social dos tigres. Tem sido assim desde o Pleistoceno, quando a radiação adaptativa de cervídeos e bovídeos de grande porte permitiu o surgimento de um predador grande de orla de floresta.

O estilo de caça por emboscada do tigre torna mais eficiente a caçada solitária, logo estes animais têm uma estrutura social dispersa, com contactos entre si mas geralmente à distância. Cada tigre pode comer entre 18 e 40 Kg de carne numa única caçada e necessita de matar cerce de 50 a 75 ungulados de grande porte por ano, de modo a sobreviver.

Tanto os machos como as fêmeas têm territórios, que defendem contra intrusos do mesmo sexo. O tamanho do território varia muito com a zona: no Nepal, onde a densidade de presas é elevada pode ser de apenas 20 Km2, enquanto na Rússia pode chegar aos 430 Km2

Os territórios das fêmeas são menores e dependem da quantidade de recursos necessários para criar a prole. Os machos tentam maximizar o número de territórios de fêmeas que podem defender, sobre as quais terá exclusividade reprodutora, pelo que o tamanho do seu próprio território vai depender da sua força e capacidade de luta.

A manutenção do território pode ser perigosa, pois mesmo uma luta vitoriosa pode deixar o animal incapacitado para a caça. Assim, os tigres tentam anunciar a sua presença de modo a minimizar o conflito directo: urina misturada com secreções de glândulas anais é aspergida em troncos ou rochas, fezes e arranhadelas são deixadas ao longo de trilhos e locais óbvios dos territórios.

Estes sinais indicam que o território está ocupado, fornecendo simultaneamente indicações sobre a identidade e disponibilidade sexual do seu dono. A importância destes sinais torna-se clara quando um animal não os coloca pois em poucos dias ou semanas esses locais são usurpados por outros tigres.

Os tigres atingem a maturidade sexual entre os 3 e os 5 anos de idade mas levam mais tempo a estabelecer um território e reproduzir-se.

A reprodução ocorre em qualquer altura do ano, mesmo no Inverno em locais frios. As fêmeas anunciam a sua disponibilidade rugindo frequentemente e aumentado a marcação de território. O acasalamento demora entre 2 a 4 dias, durante os quais o macho pode cobrir a fêmea mais de 30 vezes por dia, durante 10 a 15 segundos de cada vez.

Daí resultam 2 ou 3 crias totalmente indefesas e cegas, após uma gravidez de cerca de 103 dias. Pelo menos durante o primeiro mês, as crias são totalmente dependentes do leite materno, permanecendo numa toca. Após esse período, as crias acompanham a mãe até aos locais de caça, embora permaneçam fora de vista. Aos 6 meses começam a tentar ajudar na caça, aperfeiçoando as suas técnicas.

Os machos não têm qualquer participação na criação dos jovens, embora possam, por vezes, juntar-se à família e mesmo partilhar presas com a fêmea e suas crias. Quando um macho adquire direitos sobre o território de outro, mata todas as crias do seu competidor, forçando a fêmea a entrar no cio e produzir a sua própria descendência mais cedo.

As crias permanecem dependentes da mãe até 15 meses, após o que uma separação gradual se inicia. Tem sido documentado que por vezes a mãe doa parte do seu território às suas filhas, aumentando assim as suas chances de sobrevivência e reprodução.

Das 8 subespécies reconhecidas de tigre, as 3 menores e mais isoladas já estão extintas: o tigre de Bali foi o primeiro, em 1939, seguido dos tigres do Cáspio e de Java, vistos pela última vez em 1968 e 1979, respectivamente.

Actualmente, o tigre do sul da China parece estar à beira da extinção e todas as restantes subespécies estão seriamente ameaçadas. Os números mais optimistas apontam para um declínio de 100000, no início do século XX, para 5000 tigres, no final do século XX. Estimativas recentes apontam para cerca de 3000 tigres de Bengala, 1200 tigres da Indochina, 400 tigres de Sumatra e outros tantos tigres da Sibéria, restam na natureza. Menos de 30 tigres do sul da China ainda sobrevivem selvagens.

Os sobreviventes enfrentam uma série de ameaças: caça furtiva, perda de habitat e de presas, são apenas as principais. A constante demanda de ossos de tigre para a medicina tradicional chinesa, bem como das suas peles como trofeus, tem levado a perdas cada vez mais difíceis de suportar. A China é o maior produtor de artigos de osso de tigre, tendo exportado mais de 27 milhões de produtos apenas na década de 90 do século XX. Japão, Hong Kong e Coreia do Sul são os principais importadores.

A redução do número de ungulados devido à caça ou à pressão humana também tem sido um problema grave. Espera-se que os incentivos dados a muitos países da região para ajudar na conservação deste belo animal tenham eco nas populações.

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