Reino
Animalia
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Já
foram identificadas e descritas mais de 2 milhões de espécies animais, mas
considera-se que ainda muitas permaneçam por descobrir, principalmente de
invertebrados, tanto terrestres como marinhos. Este facto torna os animais
os seres vivos mais diversificados do planeta.
Para
a maioria das pessoas, os animais mais familiares são vertebrados
mas estes apenas correspondem a 3-5% dos animais, não sendo de todo
representativos do reino animal.
Os vertebrados relacionam-se todos entre si e partilham um ancestral comum
relativamente próximo, o inverso do que acontece com os invertebrados, a grande
maioria dos animais. Estes últimos têm muito pouco em comum além da falta de
coluna vertebral. A sua maioria tem dimensões reduzidas (interessante
excepção é a lula gigante, que pode atingir 16 metros de comprimento) e
habita locais pouco acessíveis, aumentando o nosso desconhecimento sobre a sua
biologia.
Esta
enorme diversidade está distribuída por 35 filos, na sua maioria marinhos,
demasiado para que se possa fazer uma abordagem mais aprofundada deste reino,
pelo que apenas serão referidos os mais representativos e familiares, numa
perspectiva evolutiva, pela ordem em que terão surgido na história da Vida.
Actualmente
os animais podem ser encontrados em todos os habitats do planeta, mas pensa-se
que terão evoluído nos mares do Pré-Câmbrico,
a partir de protozoários flagelados, excepto as esponjas,
cuja simplicidade extrema parece indicar origem separada.
A
evolução desse protista ancestral deverá ter seguido dois rumos:
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Radiata
– em meio aquático e por adaptação a um estilo de vida fixo, com o
surgimento de uma boca rodeada de tentáculos em comunicação com uma
cavidade digestiva, terá surgido um tipo de ser com simetria radiada;
Muitos
dos filos actuais permanecem nos oceanos, dado que o meio terrestre é
extremamente desafiador. Apenas alguns grupos, nomeadamente artrópodes
e vertebrados, que apresentam
adaptações muito específicas, tiveram sucesso em meio terrestre.
A
evolução dos animais foi fortemente influenciada pela sua estratégia
alimentar, tendo-se desenvolvido estruturas especializadas em localizar e
capturar alimento, bem como um sistema
nervoso para coordenar essa e outras actividades. Os animais são muito
complexos e reactivos quando comparados com outros seres vivos. Mesmo os animais
mais simples reagem rapidamente ás mudanças em seu redor. Os animais com
sistemas nervosos mais desenvolvidos vão mais longe e aprendem através da
experiência, algo único deste reino.
Houve,
igualmente, um grande aumento da complexidade corporal, surgindo órgãos e
sistemas especializados na digestão, respiração, excreção
e reprodução, entre
outros. A
presença e estrutura destes órgãos e sistemas nos diferentes grupos
animais varia, constituindo o principal critério de classificação do
reino.
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Caracterização
segundo os critérios de Whittaker
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De
modo geral, pode-se considerar características típicas de animais:
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Outros
critérios de classificação dos animais
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Além dos critérios gerais
já referidos, certos aspectos apenas apresentam valor sistemático para
determinado organismo. É o caso de alguns dos critérios seguintes,
apenas aplicáveis a animais:
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Estudos
comportamentais – estes estudos têm-se revelado muito importantes na
distinção de organismos com grande proximidade de parentesco, o que pode
não permitir a divergência morfológica. É o caso de algumas espécies de
grilo, que apenas poderão ser diferenciadas através do comportamento de
acasalamento pois as fêmeas apenas reconhecem um dado canto, ou o caso de
pirilampos, onde a diferenciação foi através da frequência da luz
emitida;
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Esqueleto
– a presença ou ausência de esqueleto, bem como a sua localização,
interna ou externa, e a sua constituição em moléculas orgânicas e
minerais (cartilagíneo ou ósseo), é outro importante critério de
classificação em animais;
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Metamerização
– quando o corpo de um animal se encontra dividido em diversos
segmentos, ou metâmeros, ao longo do seu eixo antero-posterior,
diz-se segmentado ou metamerizado. A segmentação pode envolver os
órgãos internos, que se encontram repetidos ao longo do corpo, ou
ser apenas externa, como no caso humano. Noutros casos, vários
segmentos ou metâmeros podem encontrar-se unidos, como nos insectos. Na
maioria dos animais mais complexos, a segmentação apenas existe em
partes do corpo (coluna vertebral dos mamíferos,
por exemplo). A segmentação parece estar relacionada com o aumento
de tamanho do corpo, exigindo um mínimo de informação genética;
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Simetria
dos animais é geralmente radiada ou bilateral, sendo a primeira característica
das formas mais simples, excepto no caso dos equinodermes
adultos. A evolução para a simetria bilateral, por adaptação à locomoção,
foi acompanhada por uma cefalização, com
concentração de órgãos dos sentidos e de controlo na região anterior do
corpo.
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Filos
de animais metamerizados |
Tipos de simetria
em animais |
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O desenvolvimento embrionário dos animais será
estudado posteriormente mas são necessários alguns conceitos base para que se
possa compreender a descrição dos filos deste reino.
Na
reprodução sexuada, o zigoto sofre sucessivas
mitoses, daí resultando células que tomam posições diferentes consoante o
seu futuro na formação de tecidos e órgãos. Este processo, longo e complexo,
pode ser dividido em diferentes estádios.
Com
o aumento do número de células, o embrião torna-se uma estrutura com duas
camadas de células, designadas folhetos embrionários
– embrião didérmico. Estes
folhetos são a ectoderme (externa) e a endoderme
(interna) e delimitam uma cavidade interna – intestino primitivo ou arquêntero
– que comunica com o exterior por uma abertura – boca primitiva ou blastóporo. Os
animais que apresentam este tipo de embrião, cujo desenvolvimento termina aqui,
designam-se diblásticos ou diploblásticos.
A
grande maioria dos animais continua o seu desenvolvimento embrionário formando
um embrião tridérmico, constituído por três
folhetos embrionários: ectoderme, mesoderme
e endoderme. Esses animais designam-se triploblásticos.
Um
dos aspectos mais importantes na classificação dos animais é a existência ou
não de celoma.
O
celoma é definido como uma cavidade
que no embrião se encontra completamente rodeada por mesoderme.
Nesta cavidade irão, no adulto, ficar alojados os órgãos viscerais.
Em
alguns animais a única cavidade que se forma no embrião é o arquêntero, pelo
que são designados acelomados.
Quando
se forma uma segunda cavidade, localizada entre a endoderme e a mesoderme, esta
cavidade passa a designar-se pseudoceloma e os
animais que a possuem pseudocelomados.
Na
maioria dos animais forma-se, no entanto, um verdadeiro celoma, uma cavidade
totalmente delimitada pela mesoderme. Estes animais designam-se celomados.
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Animal acelomado
(acima à esquerda) representado por um platelminte, animal
pseudocelomado (acima à direita) representado por um nemátodo
e animal celomado (à esquerda) representado por um ser humano. |
Os
animais celomados podem apresentar dois tipos de formação do celoma:
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Celoma
esquizocélico – a mesoderme forma-se a partir de duas células
endodérmicas localizadas junto ao blastóporo, que vão originar os
folhetos parietal (externo) e visceral (interno) que envolvem o celoma.
Todos os animais com este tipo de desenvolvimento são protostómios
(a boca definitiva forma-se directamente a partir da boca embrionária ou
blastóporo. Além dos celomados
esquizocélicos são também protostómios os animais diploblásticos e os
acelomados e pseudocelomados);
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Celoma
enterocélico – a mesoderme
forma-se a partir de duas evaginações da parede do arquêntero, ou seja da
endoderme, que ao se individualizar desta formam os mesmos dois folhetos.
Todos os animais com este tipo de desenvolvimento são deuterostómios
(a boca definitiva forma-se secundariamente no lado oposto ao blastóporo, originando
este o ânus).
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Formação do celoma esquizocélico
num animal protostómio |
Formação
do celoma enterocélico num
animal deuterostómio |
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