Filo
Cnidaria
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Este
filo, cuja designação revela a sua natureza urticante (knide = urtiga),
inclui alguns dos organismos mais estranhos e mais belos do reino animal.
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Anémona |
Existem
evidências fósseis da presença destes animais desde o Câmbrico,
principalmente corais e anémonas.
Este
filo surge da divisão em dois filos da antiga categoria dos
Celenterados, que incluía igualmente os seres do filo Ctenophora, muito
semelhantes
aos cnidários pois apresentam duas camadas de células (que formam tecidos
verdadeiros) separadas por uma mesogleia, bem como uma cavidade digestiva, ou
gastrovascular, o único espaço interno.
Cada
indivíduo deste filo (por oposição aos ctenóforos) apresenta fibras
musculares simples e numerosas células urticantes contendo cápsulas cheias de
substâncias tóxicas – nematocistos.
As
qualidades urticantes destes animais eram conhecidas de Aristóteles, que os
considerava meio animais, meio plantas, tal como as esponjas e os ctenóforos.
Apenas no século XVIII a sua natureza animal foi reconhecida mas foram, ainda,
colocados juntamente com os equinodermes, devido
à sua simetria radiada e só
em 1888 “mereceram” o seu próprio filo.
Todos
estes animais são aquáticos e quase todos são marinhos. Apesar do seu aspecto
frágil, os cnidários são predadores formidáveis, principalmente os de vida
livre.
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Estrutura corporal
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De
modo geral, são solitários ou coloniais,
podendo apresentar duas formas (que podem
inclusivé alternar no ciclo de vida de uma mesma espécie):
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Pólipo
– forma tubular com uma extremidade fechada
e fixa – disco basal
ou pé - e outra com uma abertura central – boca
–, geralmente rodeada por tentáculos
moles e ocos, cujo número aumenta com a idade do organismo e que se
podem mover independentemente.
Geralmente
esta forma apresenta pouca quantidade de mesogleia e é extremamente flexível.
Apresenta geralmente tamanho diminuto, embora as suas colónias possam
atingir dimensões consideráveis no caso dos corais, sendo as únicas
estruturas construídas por um ser vivo visíveis do espaço.
Nestas
colónias existe grande variedade de formas e graus de complexidade
entre os diversos tipos de pólipos. As anémonas podem atingir 1
metro de diâmetro;
Neste
caso
a mesogleia é bastante abundante, dando ao animal um aspecto
gelatinoso e transparente. As medusas podem ser relativamente pequenas
mas as espécies maiores podem atingir os 2 metros de diâmetro e
apresentar tentáculos com mais de 10 metros de comprimento.
Independentemente
da forma, a parede do corpo dos cnidários apresenta tipicamente a seguinte
constituição:
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Células
epiteliomusculares –
células em forma de T, em que uma fibrila contráctil mergulha até á
mesogleia. Dispõem-se densamente, formando o revestimento externo do corpo
e permitindo o encurtar do corpo e dos tentáculos;
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Células
glandulares – células altas, que
cobrem completamente o disco basal da forma pólipo, secretam um muco
pegajoso com o qual o animal se fixa ao substrato. Este tipo de célula é
raro noutras localizações da epiderme, excepto em volta da boca, onde segregam enzimas
hidrolíticas;
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Células
intersticiais – células não
especializadas, pequenas e geralmente localizadas na base da epiderme, que
podem diferenciar-se nos restantes tipos celulares e em gâmetas, sendo, por
isso, fundamentais no crescimento e regeneração do animal;
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Cnidócitos em repouso |
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Cnidócitos disparados |
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Cnidócitos
–
células especializadas na defesa e captura de alimento, responsáveis pela
designação do filo. Estas células contêm uma cápsula – nematocisto
– contendo um líquido tóxico e um filamento, geralmente farpado,
enrolado.
Com a estimulação do prolongamento sensível, em forma de
gatilho, do cnidócito – cnidocílio – o
filamento é evaginado, penetrando ou enrolando-se no corpo da presa ou do
atacante, dependendo do tipo de cnidócito. Estas células são, portanto,
efectores independentes, pois não necessitam do estímulo nervoso para
descarregar.
No entanto, o simples estímulo mecânico não parece
suficiente, sendo aparentemente necessário
que existam substâncias específicas
dos organismos (presa ou predador) em solução na água para a activação
do cnidócito.
A evaginação do cnidocílio é causada por um aumento de
pressão no interior da célula. Após a descarga, o cnidocílio não pode
ser novamente recolhido, nem o
nematocisto
reconstruído, pelo que estas células são recolhidas para o interior da
mesogleia e digeridas;
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Células
nervosas – formam uma rede
dispersa na mesogleia (não formando nunca gânglios), com expansões
delicadas que conduzem impulsos nervosos em ambas as direcções, ao contrário
do que acontece nos animais superiores. Estas células coordenam os
movimentos do corpo e tentáculos, comandando as fibras musculares;
A
alimentação é feita através dos tentáculos, que capturam e
encaminham para a boca os animais e plâncton. Movimentos
da parede do corpo e dos flagelos das células digestivas permitem a mistura das
secreções digestivas, liquefazendo as partes moles
do alimento. As células digestivas
recolhem, então, as pequenas partículas com a ajuda de pseudópodes,
terminando a digestão intracelularmente. As partes duras, não afectadas, são
libertadas pela boca, que funciona igualmente como ânus.
Os
nutrientes obtidos, principalmente glicogénio, são armazenados em células da
gastroderme, sendo as necessidades da epiderme supridas por difusão. Estes
nutrientes tendem a ser armazenados perto de zonas de metabolismo muito activo,
como locais de formação de gemas ou gónadas.
Os
cnidários, mesmo na sua forma pólipo, podem deslocar-se, pelo menos durante
parte do seu ciclo de vida.
As
anémonas e hidras deslocam-se soltando o disco basal e apoiando-se nos tentáculos.
Podem, inclusivé, utilizar os tentáculos como pernas e deslocar-se de cabaça
para baixo durante parte do tempo.
A
respiração e excreção
são feitas por difusão, principalmente pela epiderme.
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Reprodução
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A
reprodução nos cnidários pode ser assexuada ou sexuada. É frequente
existir uma alternância de fases assexuadas e sexuadas no ciclo de vida destes
animais. Assexuadamente,
é frequente a gemulação nos pólipos, com possível formação de colónias.
A formação do novo ser inicia-se com um pequeno divertículo da parede do
corpo, completa com gastroderme, mesogleia e epiderme, bem como cavidade
gastrovascular. Esta gema alonga-se e forma uma abertura e tentáculos na
extremidade, após o que a base é separada, originando um novo pólipo.
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Larva plânula |
Na
reprodução sexuada dos pólipos, os animais produzem testículos e ovários na
parede lateral dos pólipos, em projecções arredondadas, sendo a maioria gonocórica,
embora existam espécies hermafroditas.
As
gónadas são estruturas temporárias, formadas a partir de células
intersticiais da epiderme.
Os
óvulos permanecem na parede do animal, aguardando um espermatozóide que o
fecunde. Após a fecundação e durante as primeiras fases do desenvolvimento
embrionário, forma-se uma capa dura em volta do embrião, que o protege durante
cerca de 10 dias, altura em que dele emerge um minúsculo pólipo.
Neste
caso, o desenvolvimento é directo, sem formas larvares, mas tal não pode ser
generalizado a todos os cnidários, onde existe caracteristicamente uma larva
ciliada, alongada ou oval, designada plânula. Esta larva irá fixar-se e
originar um novo pólipo.
Nas
espécies cujo adulto pertence à forma medusa, a reprodução geralmente
apresenta alternância de formas, sendo a parte sexuada feita pela medusa. Os
sexos são geralmente separados e os espermatozóides libertados pela boca vão
fecundar o óvulo preso na parede do corpo da fêmea. O zigoto desenvolve-se
numa larva plânula, que após nadar livre um certo tempo se fixa e origina um pólipo.
Assexuadamente, esse pólipo vai produzir pequenas medusas, que atingirão,
finalmente, a forma adulta.
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Interacções
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A
Grande Barreira de Coral australiana, por exemplo, estende-se por mais de 2000
Km, atingindo em certos locais uma largura de 150 Km. No mar Vermelho, estima-se
que a faixa de centenas de quilómetros de coral tenha mais calcário que todos
os edifícios das grandes cidades da América do norte juntos.
Os
corais vivem em águas tropicais, quentes e extremamente pobres em nutrientes, o
que espantou os cientistas. Como se alimentavam colónias tão grandes? A
resposta é com a ajuda de dinoflagelados fotossintéticos simbióticos. Estas
algas contribuem com glícidos para a alimentação do animal e para a deposição
de carbonato de cálcio. Por sua vez, os corais protegem-nos dos predadores.
Esta relação explica porque motivo os corais apenas conseguem sobreviver em águas
superficiais límpidas.
Mais de
uma dúzia de espécies de cnidários, sobretudo corais, estão ameaçados
actualmente. A ameaça deriva da subida do nível do mar, bem como da sua
temperatura, descargas poluentes costeiras e recolha indiscriminada para comércio.
Quando a temperatura da água do mar ultrapassa um valor crítico, as algas
simbióticas são expelidas dos tecidos dos corais, causando o seu lixiviamento
e morte.
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